quarta-feira, 6 de janeiro de 2010



A CHEGADA DA FERROVIA NO BRASIL

No Brasil o transporte ferroviário inicia no ano de 1854 através do empresário Irineu Evangelista de Souza, que empreendeu a construção da primeira ferrovia brasileira. A partir desta data o país entraria em uma nova fase, que propiciaria o desenvolvimento de várias cidades por onde a malha ferroviária chegou. As razões pelas quais se inicia a adoção do transporte ferroviário no Brasil objetivaram: interligar o interior do país com o litoral, facilitando assim o escoamento de produto; propiciar o povoamento de áreas pouco ocupadas, proteção de fronteiras e difusão do desenvolvimento econômico.
A primeira ferrovia construída recebeu o nome de Estrada de Ferro Mauá no Estado do Rio de Janeiro e a primeira locomotiva a circular no Brasil recebeu o nome de “Baroneza”, que posteriormente foi transformada em monumento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e se encontra no Museu de Trem no RJ.


No Estado do Rio Grande do Sul o intento da instalação da ferrovia se dá principalmente devido a importância estratégica do Estado diante das fronteiras do Uruguai, Argentina e Paraguai. A inauguração do primeiro trecho ferroviário no Estado do Rio Grande do Sul ocorre em 1874 e ligava Porto Alegre á Novo Hamburgo, e a partir desta data a malha ferroviária espalha-se pelo Estado.



A partir de 1874 a historia do RS constitui-se juntamente com a história da trajetória da ferrovia, apresentando-se como um fator decisivo para o progresso do Estado. Suas contribuições repercutiram em vários setores como: urbano, comercial, educacional e social.
A chegada da ferrovia interferiu para o progresso de muitas cidades no qual Santa Maria merece destaque pois transformou-se em um pólo ferroviário devido o entroncamento das principais ferrovias do Estado.
Na cidade de santa Maria a ferrovia se instala a partir de 1884, e a partir de então, inicia-se a movimentação dos trens e a cidade começa a se dinamizar.

O centro dinâmico era a “estação” local onde havia uma grande movimentação de pessoas, mercadorias e concretização negócios. Era a referência da cidade, para os que chegavam ou que partiam e nas suas proximidades foram instalados serviços complementares como uma rede hoteleira, restaurantes e lojas.


A instalação estratégica dos escritórios da Compagnie Auxiliaire e oficinas em Santa Maria no ano de 1898 auxilia no crescimento da cidade, dando inicio a um processo de evolução na urbanização.
Devido a grande demanda de moradias devido afluxo de trabalhadores surgem novos bairros em torno do parque ferroviário, como os bairros: Itararé, Chácara das Flores, Perpétuo Socorro, Carolina, Salgado Filho, Lar Operário, Leste, Rossato, Sinhá, Campestre do Menino Deus e Montanha que representavam redutos de ferroviários e seus familiares.
Outro exemplo de urbanização é a construção de uma vila popular próxima da estação que era constituída de 84 casas destinadas a funcionários da ferrovia, construída entre 1903 e 1907 foi chamada de Vila Belga.



A Cooperativa do Empregados da Viação Férrea (COOPFER) fundada em 1913 que tinha por objetivo assegurar amparo aos seus funcionários definiu a construção de diversos prédios que abrigariam armazéns, açougue, farmácia, fabricas, hospital, clubes e escolas, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da cidade.


Entre as principais medidas da COOPFER foi a construção de armazéns de consumo que forneciam desde gêneros alimentícios que recebiam o nome de seção “secos e molhados” até comercialização de calçados e roupas. A cooperativa também contava com padaria, açougue, farmácia, uma fabrica de gelo, café, massas e sabão que atendiam as necessidades dos associados a COOPFER.


A COOPFER também pensou em atender questões referentes a educação dos ferroviários e sua família e para isso criou escolas profissionais como a Escola de Artes e Ofícios em 1922, que em 1937 passou a chamar-se Escola de Artes e Ofícios Hugo Taylor, e finalmente em 1943 Escola Industrial Hugo Taylor. Atendia aos filhos homens de funcionários da Ferrovia e oferecia oficinas de eletricidade, entalhe em madeira, estofaria fundição, marcenaria, soldagem e tornearia em madeira e mecânica.



A escola destinada para meninas foi construída posteriormente e denominava-se Escola Santa Terezinha do Menino Jesus. Representou um grande avanço para a educação feminina que até então não tinham prioridade ao acesso a educação. Além da formação geral , as meninas tinham o ensino de trabalhos manuais e economia domestica, onde eram preparadas para a vida familiar.


Os funcionários da ferrovia fundaram “sociedades recreativas", a primeira entidade criada foi a – Sociedade Recreativa Ferroviária 13 de Maio, fundada em 1903, que era composta somente por trabalhadores afro-brasileiros e familiares. Em 1914 surge a Associação dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul que era composta pela “elite ferroviária”.



Outras entidades de lazer foram criadas como a Sociedade Recreativa Ferroviária 21 de Abril, localizado no bairro Itararé. Serviu como ambiente de representatividade para operários conhecidos por “graxeiros”. Nas vilas da cidade também foram criadas entidades de lazer como o Grêmio Recreativo Ferroviário Rio Grandense em 1933 e composto por trabalhadores mais humildes.

Bibliografia Consultada:

FlÔRES, João Rodolpho Amaral. Os Trabalhadores da V.F.R.G.S.: profissão, mutualismo, cooperativismo. Santa Maria: Editora Pallotti, 2008.


FLÔRES, João Rodolpho Amaral. Fragmentos da História Ferroviária Brasileira. Santa Maria: Editora, 2007.